Michel Cabral, CEO da Vixting: “Nos demos conta de que para chegar onde queríamos, era hora de partir para um M&A” — Foto: Divulgação
O tripé “inovação, governança e resiliência” é fundamental para médias empresas que buscam atrair capital e novos sócios
Desde 2019, cinco aquisições consecutivas no Brasil e uma no exterior levaram a Cadastra, empresa de serviços de tecnologia, comunicação, dados e estratégia, a anunciar um novo posicionamento, com foco em inteligência artificial e oferta de serviços integrados.
“Fomos ao mercado mais intensamente a partir de 2021 com uma butique de M&A, que nos ajudou a mapear boas oportunidades”, afirma Thiago Bacchin, fundador e CEO da Cadastra. “Traçamos um plano estratégico de longo prazo. Tínhamos muita clareza do tipo de empresa e perfil que precisávamos para complementar nosso portfólio, acelerar o crescimento e conectar mais serviços”. As companhias adquiridas foram A7B, M3, Digital Ethos, QExpert e Maeztra.
Com culturas alinhadas e integração de lideranças e carteiras - indispensáveis para o sucesso de um processo de fusão na visão do executivo - a Cadastra saltou de 150 clientes para 350, atendendo empresas como Unilever, Reckitt e Gerdau, espalhados por 12 países. Com faturamento de R$ 202 milhões em 2024, a companhia pretende voltar ativamente ao universo de fusões e aquisições a partir do fim de 2026. “Não estamos fechados [para compras], mas, sim, menos ativos”, diz Bacchin. “Até porque o mercado nos oferece novos ativos com frequência.”
Levantamento da consultoria KPMG destaca que as empresas brasileiras realizaram 739 operações de fusões e aquisições no primeiro semestre deste ano. No acumulado do período, o setor que mais realizou operações foi o de tecnologia da informação (274), seguido por instituições financeiras (75), empresas de internet (46), serviços para empresas (24), alimentos, bebidas e fumo (22). O estudo apontou ainda que houve um aumento na quantidade de transações em que investidores estrangeiros compram empresas nacionais. Entre janeiro e junho, foram 199 operações contra 178 no mesmo período de 2024, um acréscimo de quase 12%.
“O estudo não segmenta por porte de empresa, mas é sabido que as médias, com faturamento entre R$ 15 milhões e R$ 300 milhões, têm despertado interesse dos fundos de private equity”, diz Paulo Guilherme Coimbra, sócio da KPMG. Segundo ele, num primeiro momento, diante do aperto das margens e de performance abaixo do desejado, as companhias de médio porte vão em busca de crédito. Se não conseguem, partem para operações de M&A (fusões e aquisições, na sigla em inglês), seja com foco em encontrar novos sócios ou até para venda de 100% da operação.
Na visão de Jefferson Nesselo, sócio-diretor da Zaxo, boutique de M&A, trata-se de um movimento sem volta. “Cada vez mais as empresas se dão conta de que o M&A também é uma via de crescimento. No fundo, em boa parte das transações significa comprar tempo, ser menos solitário, porque o empresário brasileiro se faz sozinho”, afirma. “As médias empresas estão sendo mais procuradas porque têm peculiaridades e carregam conhecimento e são referências na região onde atuam”. Ele observa, porém, que sem o tripé “inovação, governança e resiliência” bem estruturado dificilmente farão negócios.
Em boa parte das transações significa comprar tempo e ser menos solitário” — Jefferson Nesselo
À frente da startup Vixting, HR Tech especializada em saúde ocupacional e admissão digital, Michel Cabral, CEO e fundador, confessa que ficou em dúvida na hora de acelerar o crescimento. “Não sabia se buscava um grande player para fusão ou negociava com um fundo de investimento”, revela. “Em 2022, chegamos quase a fechar um aporte de R$ 20 milhões, mas ainda faltaria dinheiro para alavancar a empresa. Nos demos conta de que para chegar onde queríamos, era hora de partir para um M&A”. A transação foi concluída em 2024, quando o grupo de gestão empresarial (ERP) Sankhya comprou 51% da startup.
“Nossa projeção no primeiro ano com a nova estrutura é crescer 60% o número de vidas atendidas e o mesmo percentual em faturamento”, revela o CEO. Com o objetivo de terminar 2026 com 500 mil vidas atendidas e um faturamento da ordem de R$ 89 milhões, Cabral adverte que para se alcançar bons resultados no universo de fusões e aquisições, o empreendedor tem de estar atento para analisar com inteligência e resiliência o melhor tempo do mercado. “Levamos mais de um ano na negociação, não adianta ter pressa”, diz. “Sem contar que o empreendedor precisa olhar com critério quanto deixará de dinheiro na mesa”.
Muitas vezes o movimento é inverso, com a subsidiária adquirindo a participação da empresa mãe. Foi o que aconteceu com a Spar Brasil - especializada em merchandising de varejo - que, em 2024, se tornou majoritária do Spar Group, por meio de seus acionistas atuais e do fundo americano Earth Investimentos. Com a estrutura organizada, a companhia anunciou em junho a nova identidade. Passou a chamar Ever Trade Marketing. “O Brasil representava 50% dos negócios do grupo, que operava em 10 países. A subsidiária ficou tão grande quanto a matriz”, diz o CEO, Jonathan Dagues.
“Nossa grande preocupação num primeiro momento era a resposta do mercado ao M&A e foi muito positiva. Hoje, 75% dos nossos clientes são multinacionais”, acrescenta. Os resultados endossam a decisão. “Quando fizemos a aquisição faturávamos R$ 422 milhões. Ao final de 2024, alcançamos R$ 496 milhões e a projeção para 2025 é somar R$ 650 milhões”, afirma Dagues.