Agro e Prosa - Fusões e aquisições no agro somam US$ 76 bi no mundo

O mercado global de fusões e aquisições no agronegócio movimentou US$ 76 bilhões em 2024, e o Brasil registrou crescimento de 140% nas transações, impulsionado por investimentos em fertilizantes e tecnologia agrícola.

O agronegócio tornou-se um dos protagonistas do mercado de Fusões e Aquisições (M&A), segmento que movimenta trilhões de dólares e redefine setores estratégicos em todo o mundo. Em 2024, as transações globais no setor agropecuário somaram US$ 76 bilhões, segundo a GlobalData, em 977 operações. No Brasil, o movimento ganhou força, com aumento de 140% nas transações em relação ao ano anterior, conforme levantamento da KPMG.

A dinâmica do mercado de M&A, contudo, é sensível ao ambiente econômico. O estudo conduzido por Ronaldo Rodrigues, senior associate da Zaxo Group, analisou mais de 20 mil operações realizadas entre 1990 e 2023 em 18 países. O trabalho identificou que períodos de incerteza sobre a condução da política econômica — medidos pelo índice EPU — reduzem o valor das aquisições em média 6,7%. “No entanto, quando o ativo apresenta alto potencial de crescimento, essa perda cai para menos de 1%, criando espaço para negociações mais competitivas”, explicou Rodrigues.

No caso brasileiro, o especialista destaca que o agronegócio apresenta uma característica singular: a produção não se interrompe, e a demanda global mantém-se estável. “Os investidores conseguem entrar em operações com valuations atrativos e colher resultados robustos no médio e longo prazo”, afirmou.

Entre janeiro e maio de 2025, o Brasil registrou 596 operações de M&A em diversos setores, alta de 15% em comparação ao mesmo período de 2024, segundo dados da PwC Brasil. Embora o número de transações no agro tenha diminuído no primeiro semestre de 2025 — com cinco operações, ante sete no mesmo período do ano anterior —, o desempenho de 2024 foi o melhor dos últimos cinco anos. “Esse contraste mostra a resiliência do setor a longo prazo, mas também a sensibilidade do mercado a fatores conjunturais”, avaliou Rodrigues.

O segmento de fertilizantes se destacou, com nove transações em 2024. Do total, cinco foram entre empresas brasileiras, três envolveram estrangeiros adquirindo ativos no país, três de brasileiros comprando companhias internacionais e uma entre grupos estrangeiros com operação no Brasil.

Entre as operações de maior impacto, estão a compra de 50% da Mantiqueira Brasil, uma das maiores produtoras de ovos do mundo, pela JBS, em negócio de R$ 1,9 bilhão em janeiro de 2025, e a aquisição do Grupo Safras, especializado em grãos e etanol, por um fundo da AM Agro em julho do mesmo ano.

Outro dado que chama atenção é o avanço das Agtechs no radar dos investidores. Pela primeira vez, o setor entrou no ranking das dez verticais de tecnologia que mais atraíram capital na América Latina, alcançando a oitava posição, segundo a LAVCA. Em 2024, o segmento movimentou US$ 119 milhões — 2,6% do total investido na região —, em 37 rodadas de aportes, superando áreas como logística, CRM e cleantech.

O crescimento das Agtechs reflete o avanço da agricultura digital e a busca por eficiência, sustentabilidade e produtividade. Startups voltadas à agricultura de precisão, Internet das Coisas (IoT) no campo, inteligência artificial para manejo de safras e automação de processos vêm ganhando relevância. Para especialistas, esse movimento reforça a transformação do agro em vetor de inovação e tecnologia aplicada.

Jefferson Nesello, sócio-fundador da Zaxo, traça um paralelo entre o ciclo agrícola e as estratégias de M&A. “Assim como no campo, há momentos de plantar e de colher. A instabilidade econômica pode ser o momento certo de preparar o solo para aquisições estratégicas, garantindo colheitas mais ricas no futuro”, afirmou.

Já Leonardo Grisotto, também sócio-fundador da empresa, considera que períodos de volatilidade aumentam o apetite por ativos de alto potencial. “A terra é um ativo que se valoriza de forma consistente, e empresas do setor têm capacidade de gerar caixa mesmo em cenários adversos. Isso cria um ambiente favorável para negociações inteligentes”, destacou.

O estudo conduzido por Rodrigues indica que, para cada 1% adicional nas oportunidades de crescimento em momentos de instabilidade, o valor de mercado das operações pode aumentar até 16%, chegando a 19% em setores altamente competitivos. “A volatilidade, em vez de ser apenas um risco, pode se transformar em vantagem estratégica para o investidor que conhece o ciclo do agro e entende o valor da terra”, completou o pesquisador.

A pesquisa integra a tese de doutorado de Rodrigues na Universidade Federal do Paraná, sob orientação do professor Cláudio Marcelo Edwards, e reforça a tese de que decisões baseadas em dados e visão de longo prazo podem transformar incertezas macroeconômicas em oportunidades de expansão no agronegócio.

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